“Nenhum
meio humano, nem os gestos de generosidade do imperador [Nero], nem os ritos
destinados a aplacar [a ira] dos deuses, faziam cessar o boato infame de que o
incêndio havia sido planejado nas altas esferas. Assim, para tentar abafar esse
boato, Nero acusou, culpou e entregou às torturas mais deprimentes um grupo de
pessoas que eram detestadas por seu comportamento e que o povo chamava
“cristãos”. […]Primeiramente começou-se a prender aqueles que se
reconheciam como cristãos;
depois, a partir da confissão destes, muitos outros foram considerados
culpados, mais pelo ódio do género humano do que pelo próprio incêndio. À
execução deles foi acrescentada a zombaria, cobrindo-os com peles de animais -
a fim de que morressem mordidos por cães - ou pendurando-os em cruzes - a fim
de que servissem como tochas vivas para iluminar a noite. Nero oferecera seus
jardins para este espetáculo e organizava jogos no circo, misturando-se ele
mesmo ao populacho com roupas de auriga, ou ficando de pé sobre um carro. Desta
forma, ainda que estes homens fossem culpados e merecessem ser castigados com
rigor, acabavam por despertar a compaixão, estimando-se que não eram
sacrificados pelo interesse da nação, mas pela crueldade de um só homem.”
- Excerto do Livro de Tácito, historiador
romano “Anais”,
livro XV, 44
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